Meio à especulação sobre o “mistério” que
alçou Avenida Brasil, telenovela de
João Emanuel Carneiro que chega ao fim logo mais, ao posto de fenômeno, fica a
certeza: entretenimento também pode ser Arte e com maiúscula mesmo.
Mesmo os mais
resistentes ao gênero que é produzido e mercantilizado, com maestria, pela TV
Globo, reconhecem diversos sinais de que Avenida Brasil já é um marco na
História da TV: interpretações pungentes – destacando a soberania da entrega de
Adriana Esteves à Carminha –, cenários, figurinos, edição, direção etc. Tantos
atributos que deixamos de lado o desconforto com a agressiva exploração
comercial da trama, com inúmeros mershandaisings.
Neste breve
relato quero aplaudir de pé (embora esteja na cadeira de rodas) a primorosa
dramaturgia, Carneiro utiliza cada elemento dramático e reinventa a forma de
abordar o gênero folhetinesco com afiado bisturi de competência. Em lugar de
mocinhas e vilões maniqueístas que o telespectador é obrigado a engolir a cada
nova telenovela, Joao Emanuel ousou a escancarar algo que é mais real que o
suposto realismo a que o gênero se propõe: somos feitos do mesmo barro, ou
seja, temos, todos, o bem e mal em nós e
são as relações – familiares, interpessoais, sociais etc. – que nos conduz a
evidenciar um desses lados.
A trajetória do
herói, no caso heroína, segundo Joseph Campbell, pode ser visto nos percursos
de Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves), ou seja, ambas as
personagens chegaram ao apogeu e
despencaram graças à hybris
(arrogância, soberba, orgulho) que as fizeram crer estar acima do bem e do mal.
Creio que
estimulada pelos altos índices de audiência, a TV Globo permitiu o risco de deixar
ir ao ar uma trama árida, sem concessões, com qualidade plástica remissiva ao
filme Feios, Sujos e Malvados, de Ettore Scolla, e torcemos por novos
horizontes a tornar entretenimento em obras de Arte.
0 comentários:
Postar um comentário